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barbeiro fernando araujoO INCT-EM convidou o pesquisador Fernando Araujo Monteiro, da Fundação Oswaldo Cruz, para um desafio: fazer uma breve síntese do artigo "Evolution, Systematics, and Biogeography of the Triatominae, Vectors of Chagas Disease", publicado na Advances in Parasitology, no ano passado, e disponível no ResearchGate. Com a palavra, o pesquisador!

Este artigo resulta de convite feito em dezembro de 2015 pelo Dr. Russell Stothard, Editor do Advances in Parasitology, um dos periódicos de maior tradição e renome no campo da parasitologia mundial. Lançado em 1963, o Advances se dedica à publicação de artigos de revisão abrangentes e atualizados em todas as áreas da parasitologia. A encomenda que recebi foi a de escrever artigo sobre “evolução de triatomíneos, vetores da doença de Chagas”. Dada a importância e complexidade da tarefa julguei prudente compartilhá-la com quatro colegas especialistas sobre o tema em questão: Dra. Christiane Wierauch, da University of California, Riverside, CA, Estados Unidos; Dr. Marcio Felix, do Laboratório de Biodiversidade Entomológica, Instituto Oswaldo Cruz, FIOCRUZ, Rio de Janeiro, Brazil; Dr. Cristiano Lazoski, do Instituto de Biologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil; e Dr. Fernando Abad-Franch, Grupo Triatomíneos, Instituto Rene Rachou, FIOCRUZ, Belo Horizonte, Brazil
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(Texto: Fernando Araujo Monteiro) 

A motivação necessária veio da nostalgia de momentos vividos no Laboratório Nacional e Internacional de Referência em Taxonomia de Triatomíneos do Instituto Oswaldo Cruz. Em 1995 (ainda aluno de mestrado do departamento de genética da UFRJ), recebi do Dr. Jose Jurberg, chefe do laboratório, um exemplar da obra referida como a “bíblia dos triatomíneos”, artigo seminal de Lent & Wygodzinsky (1979). Algumas semanas depois, o Professor Herman Lent, já aposentado, visitou o laboratório e fez a gentileza de autografar meu exemplar. Escreveu: “A Fernando Monteiro, julgando ser útil em suas pesquisas.”

Mas por que falar sobre classificação e biogeografia de barbeiros num contexto filogenético? Porque “em biologia nada faz sentido senão à luz da evolução”, segundo frase cunhada pelo célebre geneticista russo Theodosius Dobzhansky (1973), como título de artigo publicado no periódico The American Biology Teacher, visando a difusão do pensamento evolucionista entre professores de biologia norte-americanos. A perspectiva evolucionista permite uma interpretação mais racional, parcimoniosa e portanto diferenciada dos fenômenos biológicos. A oprtunidade de escrevermos um artigo de revisão sobre tema tão relevante nos deu a liberdade necessária para discorrermos sobre os assuntos que julgamos mais relevantes e de maior interesse para a comunidade científica dedicada aos estudos sobre vetores da doença de Chagas.

O conhecimento cientifico é construído através da publicação de resultados de investigações em periódicos indexados. Entretanto, pesquisadores frequentemente divergem sobre determinados temas e achados. Esta revisão nos possibilitou avaliar criteriosamente resultados descritos nos artigos publicados sobre sistemática molecular de triatomíneos desde 1985. Além disso, pudemos revisar as informações sobre ocorrência geográfica de espécies disponíveis na literatura.

Segundo Russell Stothard, em função das novas evidências moleculares e filogenéticas que apresenta de forma sintética, o trabalho é digno de comparação à célebre obra de revisão sobre a subfamília Triatominae publicada por Herman Lent e Pedro Wygodzinsky em 1979. “De fato, este é um excelente resumo da situação atual. O artigo apresenta uma nova proposta de agrupamento para os principais subgrupos da subfamília, sem perder de vista as informações da taxonomia clássica. Ilustra ainda a evolução complexa deste grupo de vetores em um contexto biogeográfico”.

Esta revisão discute quatro temas fundamentais apresentados a seguir:

1. Origem da hematofagia
A subfamília Triatominae compõe um grupo particular dentro da família Reduviidae: todos seus integrantes se alimentam exclusivamente do sangue de animais vertebrados. As demais espécies de reduviídeos são predadoras (se alimentam da hemolinfa de outros insetos) ou fitófagas (sugam seiva de plantas). A maioria das análises indica que a subfamília Triatominae inclui todos os descendentes de um ancestral comum, o que caracteriza um grupo monofilético. Isso sugere que a hematofagia provavelmente surgiu uma única vez na evolução do grupo e que este evento teria ocorrido há aproximadamente 37 milhões de anos.

2. Importância da taxonomia integrativa
Este grupo taxonômico inclui 152 espécies de triatomíneos classificadas em 16 gêneros agrupados em cinco tribos. Entretanto, o avanço das pesquisas moleculares revelou imprecisões nas classificações baseadas apenas em características morfológicas dos vetores. Em função disso, estudos mais recentes buscam a taxonomia integrativa, que reúne dados de diversos campos do saber, como morfologia, genética, biogeografia, ecologia e comportamento”.

3. Origem dos triatomíneos do Velho Mundo
Treze espécies de triatomíneos são encontradas no Velho Mundo. A hipótese que defendemos chama-se ‘Out of America’. Essas espécies provavelmente são descendentes de triatomíneos da América do Norte, que teriam migrado cerca de 20 milhões de anos atrás, atravessando o estreito de Bering, entre os Estados Unidos e a Rússia.

4. Apresentação de nova proposta de classificação
Uma nova proposta de classificação de triatomíneos é apresentada. Assim, dentro de cada tribo, os insetos são classificados em linhagens, considerando sua origem evolutiva; clados, definidos a partir da ancestralidade e da distribuição geográfica comuns; e grupos de espécies, reunindo animais com alto grau de semelhança morfológica e genética, incluindo os complexos de espécies.

Com este trabalho de revisão espero ter podido corresponder às expectativas de um dos maiores nomes na história da taxonomia de triatomíneos, o Dr. Herman Lent.

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