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AEDES IOC FIOCRUZPesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz, integrantes do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Entomologia Molecular (INCT-EM), acabam de publicar um artigo com um objetivo audacioso: reunir todas as informações disponíveis entre 1985 e 2017 sobre a resistência do mosquito Aedes aegypti aos inseticidas mais utilizados no Brasil – temephos e deltametrina. A conclusão do estudo mostra que o uso contínuo dos inseticidas levou a uma resistência generalizada entre as populações de mosquitos, colocando em xeque o controle químico como principal forma de combate ao mosquito, responsável pela transmissão de doenças como a dengue, chikungunya e vírus Zika.

O artigo, publicado na última edição da revista “Memórias Instituto Oswaldo Cruz” (clique aqui para acessá-lo), é resultado do trabalho de mestrado de Diogo Bellinato com orientação da professora Denise Valle, e compartilha com o público dados inéditos da Rede Nacional de Monitoramento da Resistência de Aedes aegypti a inseticidas, entre 1998 e 2012. Também conhecida como MoReNAa, esta rede era constituída de laboratórios em diferentes estados do Brasil, que atuaram em avaliações continuadas da resistência das populações do Aedes aegypti, como parte do Programa Nacional de Controle da Dengue do Ministério da Saúde. “Ainda não tínhamos conseguido publicar esses dados porque a demanda do Ministério da Saúde era muito grande. E agora tivemos a chance de compilar, validar e verificar tudo o que existe sobre resistência a Aedes no Brasil relacionada a esses dois inseticidas mais usados”, afirma Denise Valle, que foi coordenadora da MoReNAa. “Estamos deixando à  disposição da comunidade cerca de 14 tabelas de dados, com quase 2400 registros diferentes e validados”. Além destes dados, o artigo contou com um levantamento de publicações entre 1985 e 2017 sobre o tema – inclusive trabalhos sobre os mecanismos biológicos de resistência - filtradas por critérios de qualidade.

Um dos resultados foi a confirmação de que, por conta do uso contínuo do larvicida temephos, as populações de Aedes aegypti no Brasil estão resistentes a eles. “Aprendemos que é necessário fazer uma rotação de inseticidas para evitar que casos como esse voltem a acontecer, de perder a eficiência de um produto porque os mosquitos não são mais vulneráveis a ele”, afirma Denise, que explica que, atualmente, a orientação é usar um inseticida por, no máximo, quatro anos.

No caso da deltametrina, da classe dos piretróides, a situação é a mesma: com apenas três anos de uso, o nível de resistência dos mosquitos Aedes aegypti ao inseticida já começou a ser detectada e hoje está instalada em todas as regiões do Brasil. Mas em uma dimensão mais catastrófica, já que dos cinco inseticidas para mosquitos adultos recomendados pela Organização Mundial da Saúde, quatro deles são da classe dos piretróides, deixando ao Ministério da Saúde uma única opção: o malathion. “Se o poder público não usar este inseticida com bastante critério, vamos perder a última ferramenta que temos para controle dos mosquitos adultos”, avalia Denise Valle.

Para a pesquisadora, o estudo oferece um cenário detalhado e a dinâmica da resistência aos inseticidas mais usados, nas cinco regiões do Brasil - mas não consegue explicar, por exemplo, como a resistência se instala em cada região ou município. E espera que os dados disponíveis no artigo possam ser aproveitados por pesquisadores, principalmente das áreas de epidemiologia e modelagem matemática, para avançar nas investigações. “A gente tem que conhecer o problema para enfrentá-lo, e começar a se dar conta de que o controle químico é só uma parte da solução do combate ao Aedes. Minha aposta como pesquisadora é continuar mobilizando a sociedade para combater os focos que podem virar criadouros do mosquito”, conclui Denise.

Por Rosa Maria Mattos, assessora de comunicação do INCT de Entomologia Molecular

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