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Fruto do trabalho colaborativo entre pesquisadores brasileiros e uruguaios, a patente de uma vacina contra carrapato bovino é concedida no Uruguai. A patente refere-se ao invento de identificação e caracterização de dois antígenos do carrapato bovino, Rhipicephalus microplus. O uso dos antígenos isolados, denominados Bm05 e Bm86uy, em bovinos é capaz de induzir uma resposta imunológica, de forma que os antígenos possam ser utilizados como vacina para previnir a infestação de carrapatos no gado. Em julho de 2021, a patente deste invento havia sido concedida no Brasil. A concessão da patente neste dois países abre caminho para o licenciamento da vacina para empresas interessadas em sua comercialização.

Quatro instituições de pesquisa compartilham a titulariedade da patente da vacina contra o carrapato, sendo elas:  Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS) e Universidade Federal de Ciências da Saude de Porto Alegre (UFCSPA), do sul do Brasil e Instituto Nacional de Investigación Agropecuaria e Universidad de La Republica, do Uruguai. Entre os inventores da patente está o pesquisador da UFRGS, Itabajara da Silva Vaz Junior (UFRGS), vice-coordenador do INCT em Entomologia Molecular (INCT-EM) e a professora Adriana Seixas da UFCSPA, que é pesquisadora associada da mesma rede de pesquisa que Itabajara Vaz.

As proteínas Bm05 e Bm86uy são produzidas por meio de técnicas de DNA recombinante. O uso dessas proteínas como imunógenos em bovinos gera uma resposta protetora contra carrapatos, prevenindo a infestação. As proteínas podem ser utilizadas como vacinas isoladamente ou em conjunto com outros antígenos.

A viabilidade do uso da vacina contra carrapato foi reforçada com a constatação de que anticorpos funcionais, presentes no sangue de bovinos imunizados, também são encontrados na hemolinfa dos carrapatos alimentados nesses bovinos. Entretanto, a pesquisa de antígenos com potencial protetor constitui um grande desafio para o desenvolvimento de uma vacina, sendo o objeto de estudo de vários grupos de pesquisa. 

 

Por que é importante se ter um vacina contra carrapato bovino?

O controle de infestações por carrapatos é baseado no uso de acaricidas químicos. Contudo o surgimento de populações resistentes aos princípios ativos dos acaricidas é frequente. Os métodos de controle químico são criticados pelo seu custo e por apresentarem a inconveniência de gerarem resíduos químicos no leite e carne destinados ao consumo humano, tornando crescente o estudo de métodos alternativos.

Infestações por carrapato causam perda de peso do animal, diminuem a produção de leite e prejudicam o couro. O controle desse parasita é realizado praticamente pelo uso de acaricidas, e os atuais  compostos estão cada vez menos eficientes. Agregado a isto, estes parasitas são vetores dos agentes causadores de doenças como a babesiose e anaplasmose podendo levar o animal à morte. 0 controle imunológico, desta forma, surgiu como uma tecnologia adicional no controle desse parasita.

 

 

O Brasil é um dos maiores produtores de carne bovina no mundo, com um grande rebanho bovino. O carrapato Rhipicephalus microplus causa danos significativos aos rebanhos, afetando a produção de carne e leite. Estes parasitas são responsáveis por grandes perdas econômicas na bovinocultura mundial e manter as infestações por carrapatos em níveis aceitáveis torna-se uma necessidade emergente. A concessão da patente da vacina, no Brasil, e mais recentemente, no Uruguai, representa um avanço importante na proteção contra carrapatos em bovinos, contribuindo para a saúde e produtividade desses animais. 

No entanto, mesmo com todas demonstrações de que a imunização pode ser um método eficiente no controle de carrapato, vacinas contra carrapatos devem ser empregadas dentro de um contexto de controle integrado, isto é, em conjunto com acaricidas, já que os métodos de vacinação disponíveis, atualmente, ainda não conferem imunidade total. 

 

Cronologia das patentes

A patente da vacina contra o carrapato bovino, no Uruguai, foi submetida, em 20 julho de 2016, e concedida oito anos depois, em 08 de abril de 2024. O seu prazo de vigência vai até 20/07/2036. Baixe aqui o certificado da patente no Uruguai.

Já a patente da vacina contra o carrapato, no Brasil, foi depositada no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), em 24 de julho de 2015, e concedida quase seis anos depois, em junho de 2021. O seu prazo de vigência é de 20 anos, a partir da data do seu depósito. Acesse o link para ter acesso ao conteúdo do documento de concessão da patente no Brasil (BR 102015017673-2 B1).

 

 Por Lúcia Beatriz Torres, jornalista do INCT em Entomologia Molecular (INCT-EM)

 

 

 

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