Com o objetivo de integrar diferentes grupos de pesquisa e do serviço que trabalham na área de vetores e oferecer base teórica e prática em diversos temas da área - como taxonomia, biologia, fisiologia e bioquímica de artrópodes vetores, incluindo sistemática e filogenética, interação patógeno-vetor, vigilância e controle - o IX Curso de Biologia de Artrópodes Vetores (CBAV) chegou ao fim. Durante cerca de duas semanas (o curso aconteceu entre os dias 02 e 13 de setembro), os alunos aprofundaram seus conhecimentos teóricos sobre o assunto, tendo a oportunidade de realizar visitas a campo, pesquisar nos laboratórios do NUPEM/UFRJ e compartilhar suas experiências e saberes, em um contexto participativo, de forma a gerar aproximação entre os pesquisadores.
Além da integração e do compartilhamento de conhecimento e infraestrutura entre os pesquisadores da área - especialmente neste momento de crise político-econômica quando os recursos são escassos e a diminuição do investimento em ciência é marcante – outro aspecto marcou o IX CBAV: a diversidade. Alunos e professores de universidades distintas, provenientes de diversas áreas de atuação e formação, integraram e fortaleceram o corpo docente e discente do curso.
Professores de diferentes instituições – como o Biology Centre CAS - República Checa, a University of Queensland UQ – Austrália, da Secretaria Municipal do Espírito Santo, do Centro de Zoonoses de Foz do Iguaçu, da empresa Kasznar Leonardos , bem como Institutos e Universidades do país (Instituto Oswaldo Cruz – IOC, Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, da Universidade Estadual de São Paulo – UNESP-Botucatu, Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, ILMD – Fiocruz Amazônia, Universidade Federal do Espírito Santo - UFES e Universidade Federal do Rio de Janeiro –UFRJ) compuseram o time de especialistas que ministraram o curso.
Já o corpo discente, por sua vez, contou com alunos de graduação e pós-graduação provenientes também de diversas instituições, além de servidores públicos municipais e estaduais que desempenham suas atividades em secretarias de saúde do país (composição do corpo discente: 4 alunos da UNIR - Rondônia; 1 aluno da UFF e 1 aluno da UENF; 5 alunos do IOC - Rio de Janeiro; 1 aluno da USC – Santa Catarina; 2 alunos da UFTM de Uberaba; 3 alunos da UFRRJ - do Rio de Janeiro; 1 aluno do IOC VCV – de Vassouras-RJ; 1 aluno da Fiocruz de Minas – Belo Horizonte; 2 alunos da UFMG – Belo Horizonte; 1 aluno da UEPA – Pará; 1 aluno do IOC – Mato Grosso e 1 aluno da IPVDF - Rio Grande do Sul).
A diversidade foi, então, elemento que em muito engrandeceu e contribuiu para o sucesso do IX CBAV, integrando diferentes profissionais e linhas de pesquisa, discutindo estratégias de desenvolvimento de pesquisa para a área e contribuindo para o avanço da ciência e desenvolvimento tecnológico.
O NUPEM/UFRJ se sente honrado em receber o CBAV, mais mais uma vez! Ano que vem tem mais, acompanhe as novidades pelo site do CBAV: http://cbav-inct-em.blogspot.com/
Texto: Assessoria de comunicação do NUPEM - http://www.macae.ufrj.br/nupem/index.php/novidades/1110-ix-turma-do-curso-de-biologia-de-artropodes-vetores-se-despede-do-nupem-ufrj
Veterinários e donos de animais domésticos conhecem bem o problema: o cachorro tem carrapato, é tratado com produtos parasiticidas, mas… os carrapatos continuam firmes, fortes e famintos. Pesquisadores em entomologia molecular se debruçaram cientificamente sobre a questão e comprovaram o que o faro de muitas pessoas já desconfiava: a falta de eficácia dos produtos acontece porque populações de carrapatos do cão (Rhipicephalus sanguineus) coletadas no Rio Grande do Sul são resistentes a três das principais drogas utilizadas no controle desses parasitas: os produtos à base de deltametrina, fipronil e ivermectina. Este é o trabalho mais profundo e amplo sobre a resistência dos carrapatos do cão realizado no Brasil até agora, ou seja, com o maior número de populações de carrapatos e carrapaticidas analisados, e o primeiro trabalho a descrever a resistência dos carrapatos do cão da linhagem temperada, que é a linhagem encontrada no estado do Rio Grande do Sul.
Um artigo com os principais achados da pesquisa foi publicado recentemente e é fruto da pesquisa de mestrado de Simone Becker, orientada pelo professor Guilherme Klafke, do Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor (IPVDF), ligado à Secretaria de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul. A pergunta científica surgiu a partir da experiência de Simone - que é veterinária clínica - no cuidado dos animais: por que os produtos não eliminam completamente os carrapatos dos cães? Para responder à pergunta, os pesquisadores foram a campo, na caça aos carrapatos. “Coletamos amostras de carrapatos em diversos locais da Zona Metropolitana de Porto Alegre: no canil do Corpo de Bombeiros de Porto Alegre, em abrigos de animais de rua, e em residências”, conta Guilherme Klafke. Em seguida, os pesquisadores fizeram ensaios analisando a toxicidade de cada um dos medicamentos nas populações de carrapatos. “Das 9 populações analisadas, 7 populações foram resistentes à deltametrina, um inseticida piretroide, algo que confirma outros estudos que mostram que existe resistência disseminada aos piretroides não só em carrapatos do cão, mas em carrapatos dos bovinos e em mosquitos, por exemplo”, afirma Guilheme. “Também encontramos populações de carrapatos resistentes ao fipronil, um achado inédito aqui no Brasil, e resistência, em um nível mais baixo, à ivermectina, que não é um medicamento específico para tratamento contra carrapatos em cães, mas é amplamente utilizado com essa finalidade”, diz Guilherme.
A resistência aos parasiticidas é um mecanismo de adaptação dos carrapatos - e de outros insetos e pragas - à adversidade. “Quando usamos veneno pra controlar carrapato, a gente mata os que são suscetíveis, mas alguns indivíduos têm características genéticas específicas que os permitem sobreviver. E os que sobrevivem, transmitem essa informação genética que confere a resistência para seus descendentes, e assim sucessivamente”, conta Guilherme. O pesquisador explica que os remédios contra carrapatos costumam agir no sistema nervoso dos artrópodes, superexcitando os neurônios e levando à morte dos animais. E a resistência costuma acontecer de duas formas. A mais comum delas é por insensibilidade do sítio de ação, ou seja, quando a mutação genética dos carrapatos altera a estrutura da proteína que seria alvo do medicamento, fazendo com que a droga não consiga se ligar e matar o carrapato. O segundo mecanismo se dá quando o metabolismo dos carrapatos resistentes consegue detoxificar rapidamente os carrapaticidas, evitando que eles cheguem ao sistema nervoso.
Além de investigar o problema, os pesquisadores já trabalham na solução: desenvolveram um protocolo para exames laboratoriais de diagnóstico de resistência, onde os carrapatos são enviados para análise, e identifica-se a quais produtos eles são resistentes, uma ferramenta decisiva para orientar veterinários na melhor indicação do produto a ser utilizado. Assim é possível evitar que a seleção artificial - realizada pelo uso dos carrapaticidas - aumente ainda mais a resistência e espalhe populações de supercarrapatos, que são insensíveis a todos os produtos disponíveis, algo que já é realidade em populações de carrapatos bovinos. Vale mencionar que o biocarrapaticidograma - que testa a sucetibilidade e resistência dos carrapatos aos parasiticidas - já é comum na análise do carrapato bovino (Rhipicephalus microplus). Mas na análise do carrapato do cão apenas o IPVDF, que é ligado ao Governo do Estado do Rio Grande do Sul, faz esse trabalho.
Apesar dos carrapatos bovinos serem o foco de pesquisa do Guilherme Klafke, ele afirma que objetivo, a longo prazo, é desenvolver um diagnóstico molecular da resistência, em que os carrapatos seriam submetidos a um teste genético, e a análise do DNA já indicaria, em menos tempo do que o teste toxicológico, qual melhor produto para controlar a população. Buscar pistas genéticas sobre a resistência dos carrapatos bovinos a parasiticidas já rendeu este artigo, publicado no International Journal of Parasitology: Drugs and Drug Resistance e a ideia é repetir o feito na análise do carrapato do cão.
E para melhor compreender as estratégias de sobrevivência dos carrapatos, outras pesquisas continuam sendo necessárias. “É importante novos trabalhos, que ampliem o número de populações de carrapatos analisadas, e desenvolver metodologias para diagnosticar a suscetibilidade às drogas de última geração, antes que o problema da resistência comece a aparecer”, afirma Guilherme. Cachorros e humanos agradecem!
Por Rosa Maria Mattos, assessora de comunicação do INCT em Entomologia Molecular
O coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Entomologia Molecular, Pedro Lagerblad, ao lado de outros 81 coordenadores e coordenadoras de INCTs, assina um manifesto em defesa das agências federais de fomento à pesquisa científica e tecnológica, no atual contexto de corte de recursos e iminente fim das bolsas que remuneram as pessoas que trabalham com pesquisa científica. O manifesto reafirma os objetivos e escopos de cada uma das três agências: a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). E também traz dados sobre a produtividade dos INCTs e sua importância histórica. "Os Coordenadores dos INCTs manifestam-se pela restauração do orçamento, pela eliminação do contingenciamento de recursos e pela preservação do CNPq, CAPES e FINEP, instituições que, no âmbito federal, foram responsáveis pela consolidação da Pós-Graduação e pelo desenvolvimento científico e tecnológico que levaram o Brasil à posição de destaque no cenário mundial de CT&I. A fusão ou a extinção de Agências representará uma ação temerária, irreversível e um sério prejuízo para o desenvolvimento da nossa nação", afirma o documento.
Leia abaixo a íntegra do manifesto:
MANIFESTO DOS COORDENADORES DOS INSTITUTOS NACIONAIS DE CIÊNCIA TECNOLOGIA E INOVAÇÃO (INCT) EM DEFESA DA CT&I E DAS AGENCIAS FEDERAIS DE FOMENTO À PESQUISA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA
A CAPES e o CNPq foram criados em 1951 com missões específicas. O CNPq é responsável por fomentar a Ciência, a Tecnologia e a Inovação, e atuar na formulação de suas políticas, contribuindo para o avanço das fronteiras do conhecimento, o desenvolvimento sustentável e a soberania nacional. A CAPES, por outro lado, tem a missão de "assegurar a existência de pessoal especializado em quantidade e qualidade suficientes para atender às necessidades dos empreendimentos públicos e privados que visam ao desenvolvimento do país". Na década seguinte foi criada a FINEP com a missão de promover o desenvolvimento econômico e social do Brasil por meio do fomento público à Ciência, Tecnologia e Inovação em empresas, universidades, institutos tecnológicos e outras instituições públicas ou privadas.
As missões do CNPq, CAPES e FINEP são distintas e complementares, pois o CNPq atua prioritariamente no apoio aos pesquisadores individualmente em todos os níveis e aos estudantes de ensino médio e de graduação – através dos exitosos programa de iniciação científica – e pós- graduação. A CAPES é prioritariamente focada no apoio às pós-graduações das Instituições de Ensino Superior, enquanto a FINEP apoia projetos de infraestrutura e grandes equipamentos em Instituições de Ciência e Tecnologia, públicas e privadas, bem como a inovação em empresas. Em resumo, a manutenção do CNPq, CAPES e FINEP cumprindo as suas respectivas missões é fundamental para o desenvolvimento Educacional, Científico e Tecnológico do Brasil.
Em 2008 o CNPq liderou a criação de uma iniciativa abrangente, os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia, em alinhamento com as Áreas Estratégicas da Política Nacional de Ciência Tecnologia e Inovação com a participação direta da CAPES e em parceria com as Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa e a FINEP, gestora do FNDCT. Naquela época, o Programa INCT envolveu 125 projetos distribuídos em todas as regiões do País. Dele participam 6.794 pesquisadores e 1.937 instituições associadas a pesquisas em temas de fronteira.
A produção científica dos INCTs revelou-se expressiva, totalizando 70.389 registros, entre livros (905), capítulos de livros (4.255), artigos publicados em periódicos nacionais indexados (7.995), artigos publicados em periódicos internacionais indexados (26.215), trabalhos apresentados em congressos nacionais (21.043), trabalhos apresentados em congressos internacionais (14.261), softwares (242), produtos (1.845), processos (130) e produções artísticas (88) Outro impacto bastante relevante é a cooperação nacional. Foram realizadas 454 parcerias com outros INCTs, 167 acordos com instituições nacionais; além disso, 263 laboratórios nacionais estão associados aos INCTs. Por outro lado, foram celebrados pelos INCTs 787 acordos de cooperação internacional, houve a participação de 1.318 pesquisadores estrangeiros nas pesquisas, 139 empresas e 376 laboratórios internacionais.
Com relação à propriedade intelectual, foram registrados 578 depósitos de patentes, 265 concessões e 12 já comercializadas. Na cadeia de inovação destaca-se a geração de conhecimentos com potencial aplicação tecnológica, sendo 63 provas de conceito, 54 projetos piloto, 38 escalonamentos além da bancada, 51 ações em desenvolvimento final de processo ou produto, dentre outros.
O impacto envolvendo a formação de recursos humanos e a transferência de conhecimento pode ser dimensionado com a criação de 566 disciplinas em 79 programas de pós-graduação a realização de 1.568 eventos científicos, as 111 parcerias estabelecidas com órgãos estaduais de educação e as 4.232 iniciativas de divulgação, envolvendo vídeos, jornais, cursos, palestras, cartilhas etc.
Sem dúvida, uma iniciativa de grande sucesso!!!.
A segunda fase dos INCTs foi formalizada em 2016, com liberação de recursos em dezembro de 2016. Atualmente, são 102 INCTs com presença em todas as regiões do País atuando em áreas altamente estratégicas tais como: Saúde, Ecologia e Meio Ambiente, Ciências Exatas e Naturais, Ciências Humanas e Sociais, Ciências Agrárias, Engenharia e Tecnologia da Informação, Energia e Nanotecnologia.
Nesse sentido, os Coordenadores dos INCTs manifestam-se pela restauração do orçamento, pela eliminação do contingenciamento de recursos e pela preservação do CNPq, CAPES e FINEP, instituições que, no âmbito federal, foram responsáveis pela consolidação da Pós-Graduação e pelo desenvolvimento científico e tecnológico que levaram o Brasil à posição de destaque no cenário mundial de CT&I. A fusão ou a extinção de Agências representará uma ação temerária, irreversível e um sério prejuízo para o desenvolvimento da nossa nação.
Em defesa da C,T&I no Brasil!
Assinam o Manifesto os Coordenadores dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia:
Acalorados debates científicos sobre artrópodes e helmintos emoldurados por sol e mar. Esse foi o retrato da 23ª edição do Arthromint que aconteceu entre os dias 31 de julho e 03 de agosto, em Ilha Grande, no Rio de Janeiro. Participaram do evento cerca de 130 pesquisadores, entre professores, estudantes de graduação, pós-graduação e pós-doc, de 18 universidades e institutos de pesquisa dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Amazonas, Rio Grande do Sul e Distrito Federal, e integrantes de duas universidades internacionais.
O evento é conhecido por sua metodologia de apresentação de trabalhos científicos que favorece a interação entre estudantes e pesquisadores. Ao longo dos três dias de encontro, os alunos e alunas com trabalhos inscritos fizeram apresentações de 30 minutos, em três mesas compostas por participantes de forma aleatória. “Nós encorajamos muito que os estudantes tragam não só os resultados e trabalhos bem sucedidos, mas também compartilhem as dificuldades que tiveram durante o seu estudo, para que a discussão possa enriquecer e ajudar efetivamente a conclusão das pesquisas”, afirma Ana Bahia, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e integrante da comissão organizadora do evento, ao lado das pesquisadoras Marcia Paes e Natália Nogueira, do Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
A diversidade de subáreas temáticas é outro ponto de destaque do evento, que reuniu pesquisadores especialistas em diferentes áreas da biologia como: fisiologia, genética, evolução, ecologia, biologia molecular, bioquímica, controle, sistemática, epidemiologia, interação parasito/hospedeiro, comportamento e imunologia. “A interação de pesquisadores de diferentes áreas enriquece o debate dos trabalhos dos alunos e suscita reflexões mais amplas, menos enquadradas nas áreas de conhecimento tradicionais, ampliam o olhar”, afirma Ana Bahia.
Além das mesas de debates sobre os trabalhos inscritos, o Arthromint 2019 contou com uma reunião de integrantes do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Entomologia Molecular (INCT-EM), com duas palestras (“Evolution, systematics and biogeography of the triatominae, vectors of Chagas Disease” – Dr. Fernando Abad ranch e “Chromatin structure changes are essential for development and evolution of the human parasite Schistosoma mansoni” – Dr. Christoph Grunau), e com a exibição do documentário “Conhecendo os mosquistos Aedes - transmissores de arbovírus”, apresentadas por Genilton Vieira, do Serviço de Produção e Tratamento de Imagem da Fiocruz. Além disso, contou também com oito mesas temáticas, que reuniram os participantes para discutir temas específicos como vacinas, miniaturização dos organismos modelo, controle de vetores e resistência a inseticidas, métodos de isolamento e propagação de agentes parasitários em cultivos de células de carrapatos, transcriptômica de organismos não-modelos, proteômica como abordagem para a identificação, quantificação e caracterização de proteínas e as bases moleculares do sistema de edição genômica CRISPR/Cas9 para o desenvolvimento de artrópodes e controle de populações de insetos vetores. Mesas que aconteceram na sala de refeições da pousada, no gramado do jardim, e até…. na areia da praia.
“Os debates ajudaram muito no meu projeto, eu tenho interesse em aplicar as ideias e pesquisar mais sobre elas, foi bastante enriquecedor”, afirmou Ingrid Oliveira Garrido, aluna de iniciação científica da UFRJ. “Como o ambiente é informal você sente menos pressão e dificuldade em falar com as pessoas, que são mais solícitas, você sente a aproximação. Nas apresentações dos trabalhos nas mesas aleatórias, eu caí em uma mesa com dois professores e outros quatro alunos, e rendeu uma boa troca ouvir a opinião de pessoas que trabalham mais ou menos na mesma área, mas com modelos ou perguntas diferentes. É difícil não aproveitar pelo menos um dos conselhos que você vai receber!”, opina o aluno Leonan Azevedo dos Reis, mestrando em química biológica, também da UFRJ. Sem contar as festas de confraternização ao fim de cada dia de evento, organizadas por um comitê de alunos e alunas, que variou de festa julina a festa temática dos anos 80.
E a próxima edição do Arthromint já tem data marcada: vai acontecer entre os dias 29 de julho a 01 de agosto de 2020, no mesmo local, e terá como comitê organizador pesquisadores de Minas Gerais. Agora é guardar na agenda, caprichar nos experimentos, organizar os resultados e... torcer por sol.
Por Rosa Maria Mattos - jornalista e assessora de comunicação do INCT-EM
Em uma época em que a afirmação da diversidade sexual e de gênero ganha cada vez mais importância - entre os seres humanos, claro - pesquisadores de biologia evolutiva enfrentam um mistério sobre os machos. Dos nossos 44 cromossomos, guardiães do DNA, dois deles destacam-se pela fama e função: determinar o sexo biológico. XX para o sexo feminino, XY para o masculino. O cromossomo Y, exclusivo dos machos, é encontrado não apenas em humanos, mas em inúmeros outros seres vivos, de plantas a insetos. Como estes cromossomos surgem e evoluem diversas vezes em diferentes grupos de animais e plantas? Porque são mais “curtos” (possuem bem menos genes) que os cromossomos X?
Este texto não irá responder a nenhuma destas perguntas - mas o trabalho do grupo coordenado por Antônio Bernardo de Carvalho, pesquisador do Departamento de Genética do Instituto de Biologia da UFRJ, está fazendo sua parte na montagem deste complexo quebra-cabeças. Uma pesquisa com 400 espécies de moscas de fruta – as drosófila - traz um novo e intrigante elemento para a mesa de debates: nada é tão simples como parecia ser! O artigo que traz o achado foi publicado na revista Plos Genetics, e recentemente recomendado pelo F1000 prime, uma plataforma de avaliação de pesquisas científicas, que considerou o trabalho relevante e que parte de uma ideia simples e inteligente.
Para penetrar o mistério é preciso falar da dificuldade de estudar o cromossomo Y. “Apesar de sua importância para o sexo masculino, pouco se sabe sobre o cromossomo Y. E o motivo disso é porque é difícil estudá-los, já que estão em uma região de DNA de difícil sequenciamento, o que faz com que seja tão necessário desenvolver técnicas e métodos para estudar essa região”, afirma Eduardo Dupim, cientista cuja pesquisa de doutorado culminou na publicação do artigo.
Apesar de tanta complexidade, as moscas de fruta – também conhecidas como “mosquinha da banana” – são um modelo clássico para estudo genético e dos cromossomos usado a mais de 100 anos devido a sua simplicidade. Que o diga Thomas Hunt Morgan, que venceu o prêmio nobel em 1933 justamente por um estudo sobre as cores dos olhos das moscas, genética e hereditariedade.
Saltando para 2005, um trabalho do professor Bernardo demonstrou que genes relacionados à fertilidade de um grupo de espécies das drosófilas não estava no cromossomo Y, onde esperava-se que estivessem, mas num autossomo - nome dado aos demais pares de cromossomos não-sexuais. Ou seja: o cromossomo Y era completamente diferente entre as espécies, e os genes masculinos do cromossomo Y original haviam sido incorporados por um autossomo.
“Mas a questão é que Drosophila é um gênero enorme de moscas de fruta, tem mais de mil espécies, e a nossa pergunta foi: "será que aquele evento que observamos — a fusão dos genes do Y ao autossomo — pode ter acontecido mais vezes na história evolutiva das moscas?", questiona Eduardo.
Para isso, os pesquisadores ampliaram a amostra para o expressivo número de 400 espécies. Usando PCR - uma técnica simples e de baixo custo de biologia molecular, usada na maioria dos laboratórios – os pesquisadores analisaram o material genético das 400 diferentes espécies de mosquinhas em busca de nove genes conhecidos do cromossomo Y de duas moscas-de-fruta com genoma sequenciado. A pergunta refeita 400 vezes: estes genes estavam no cromossomo Y ou no autossomo ou X?
E os pesquisadores encontraram outros casos em que os genes que deveriam estar no Y estavam fora do Y? “A resposta é sim, a gente encontrou mais um evento, em um grande grupo de espécies asiáticas, do subgrupo montion, na qual todos os genes não estão no cromossomo Y, mas em outro cromossomo”, afirma Eduardo. No total, 13% das espécies amostradas (52 de 400) possuem um cromossomo Y incorporado, ou seja, onde a maioria dos genes – antes presentes apenas em machos – passam a estar presentes em ambos os sexos. O próximo passo dos pesquisadores é entender melhor as consequências desta mudança nos genes, e em qual cromossomo eles foram parar.
Esta pesquisa mostra que, diferente do observado em humanos e outros mamíferos, o cromossomo Y pode evoluir de forma mais dinâmica do que se acreditava. “O que podemos afirmar é que a evolução do Y vista nas drosófilas não é igual a que se observa em mamíferos, erroneamente assumida como se fosse a evolução de todos os cromossomos Y. O que estamos vendo claramente é que, estudando mais a fundo diferentes Y, em diferentes gêneros de animais, a gente está descobrindo novos caminhos e novas histórias, com novas tramas e dinâmicas”, afirma Eduardo Dupim.
Rosa Maria Mattos, assessora de comunicação do INCT de Entomologia Molecular