O curso introdutório sobre vetores de arboviroses e malária, voltado para agentes de combate a endemias do município de Macaé, Rio de Janeiro, integra um dos objetivos específicos do projeto de mestrado profissional em Vigilância e Controle de Vetores do Instituto Oswaldo Cruz. O referido projeto intitula-se “Diagnóstico situacional entomoepidemiológico e abordagens operacionais e educacionais para a vigilância da febre amarela silvestre e malária no município de Macaé, Rio de Janeiro. Este projeto é desenvolvido pela discente e agente de endemias de Macaé, Claulimara Moreira, sob orientação da Dra. Nildimar Honório, pesquisadora do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários e coordenadora do Núcleo Operacional Sentinela de Mosquitos Vetores – Nosmove/Fiocruz em parceria com o Centro de Controle de Zoonoses. O curso teve início no dia 26 de março e contou com a presença dos organizadores e colaboradores do projeto como a Dra. Nildimar Honório (IOC/Fiocruz), Dra. Malinda Henry (NUPEM/UFRJ), Dr. Daniel C. P. Câmara (Nosmove/Fiocruz), Marcelino Rocha (CCZ/ Macaé) e do Dr. Rodrigo Nunes que é diretor do NUPEM na abertura solene dando boas-vindas aos agentes presentes.
(Redação: Claulimara Moreira - e matéria original no site do NUPEM: https://www.macae.ufrj.br/nupem/index.php/novidades/977-curso-introdutorio-sobre-os-vetores-de-arboviroses-e-malaria-e-realizado-com-sucesso-no-instituto-nupem-ufrj)
O curso teve como objetivos apresentar de forma teórico-prática as principais espécies de mosquitos vetores de arboviroses e malária, os métodos de coleta para suas formas imaturas e captura de mosquitos adultos. Além disso, o curso propiciou a troca de experiências entre gestores, agentes de combate a endemias (ACEs), profissionais da educação e da pesquisa. O evento foi oferecido para todos os agentes de combate a endemias que demonstraram interesse pelo tema proposto, tendo aulas ministradas pelos pesquisadores e técnicos com expertise sobre o assunto e que são colaboradores do projeto. Durante as aulas práticas, os ACEs tiveram a oportunidade de conhecer os vetores, os principais métodos e armadilhas utilizados na área de entomologia para a coleta de mosquitos vetores de arboviroses e malária e incorporar conceitos e/ou técnicas para sua rotina de trabalho. A próxima etapa é construir coletivamente um Procedimento Operacional Entomológico - POE, incluindo os passos metodológicos de coleta e captura das principais espécies vetoras de dengue, chikungunya, Zika, febre amarela e malária no município de Macaé, Rio de Janeiro.
Na avaliação final, a fala de cada agente dando sugestões ou agradecendo foram marcantes e emocionantes para todos os envolvidos do projeto, sendo compartilhado e encarado com muita alegria esse momento também entre os professores do curso, a Dra. Izabel Reis, Dr. Daniel C. P Câmara, Dra. Tânia Santiago (Nosmove/Fiocruz), Dr. Paulo Bruno (ENSP/Fiocruz), Gláucio Rocha (Nosmove/Fiocruz) e Célio Pinel (Nosmove/Fiocruz) e inclusive a represente da Educação em Saúde do CCZ, Rosinei Batista. Além disso, ficou evidente que devemos sempre ampliar as discussões com esses profissionais da saúde, tendo em vista que são muitos os desafios em sua rotina de trabalho. Enfim, não se trata apenas de uma capacitação para os agentes, mas sim, a afirmação de que eles são a classe de trabalhadores que merecem o reconhecimento pelo trabalho desempenhado a favor do SUS.
“Sou muito grata em poder fazer parte deste processo, acima de tudo sou agente de combate de endemias e saber que estou de alguma maneira impactando positivamente nossa realidade atual faz-me ver que o projeto está no caminho certo”. Claulimara Lopes Moreira-Mestranda em Vigilância em Controle de Vetores- IOC/ Fiocruz e ACE- CCZ/Macaé
O Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Entomologia Molecular participou no dia 17 de abril do encontro “O papel dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia na divulgação científica" promovido pelo INCT de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia. O pesquisador Pedro Lagerblad, da Universidade Federal do Rio de Janeiro e coordenador do INCT-EM, esteve presente nas apresentações e debates, e representou o Instituto no encontro, que aconteceu no auditório do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), no Rio de Janeiro (clique aqui para acessar o vídeo transmitido online e que registra o encontro).
Durante o evento, representantes de quase todos os dezenas de INCTs compartilharam ideias e desafios sobre ações de divulgação científica e popularização da ciência realizadas por cada um dos Institutos. A parte da manhã contou com falas de Marcelo Morales, Secretário de Políticas para Formação e Ações Estratégicas do Ministério da Ciência, Tecnologia e Comunicação, que falou de iniciativas realizadas pelo governo federal - entre elas o Programa Ciência na Escola, recém-lançado - e Jerson Lima, presidente da Faperj, representando o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), e que deu um panorama sobre a dificuldade econômica das FAPs. Alguns INCTs foram convidados a apresentar suas iniciativas em divulgação científica - entre eles Luiz Nicolaci da Costa, do INCT e-Universo, Vanderlan da Silva Bolzani, do INCT Bionat - Biodiversidade e Produtos Naturais, e Tuanni Borba, do INCT Observatório das Metrópoles. E em seguida, um amplo debate, em que os participantes discutiram sobre o que tem feito para ampliar o alcance de suas pesquisas junto ao público, e também os desafios encontrados.
À tarde, Ivo Leite Filho, coordenador-geral de Popularização da Ciência do MCTIC , falou da oportunidade de atuação nas feiras e eventos voltados aos professores de ciência e estudantes, como a Semana Nacional de C&T. Natasha Felizi, do Instituto Serrapilheira, apresentou projetos de divulgação da ciência que fazem uso das redes sociais apoiados pelo Instituto. E Ildeu de Castro Moreira, vice-coordenador do INCT de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia e presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, enumerou atividades diversificadas de popularização da ciência realizadas pela Sociedade Brasileira para o progresso da Ciência, e apresentou um documento sistematizando as respostas dadas por cada um dos INCTs participantes, sobre possíveis ações comuns no campo da divulgação. A criação de um portal com matérias de divulgação científica de todos os INCTs e uma agência de notícias foi uma das ideias apresentadas. Outras ideias apresentadas foram: a produção de vídeos curtos para internet e a criação de um canal virtual, produção de material didático e de divulgação científica para escolas, a realização de exposições comuns em espaços públicos, e a participação conjunta em eventos que já existem, da SBPC. Outros pontos sugeridos foram a formação de grupos de INCTs com atuação em temas mais afins, a realização de encontros regulares sobre divulgação científica, e a realização compartilhada de cursos de media training e divulgação científica.
“A maior parte dos INCTs estava presente, e deu pra ver que quase todos eles têm algum tipo de trabalho de divulgação científica e também a preocupação com esse tema, que é sensível e central na vida e nos destinos da própria ciência como atividade no país hoje”, afirmou Pedro Lagerblad, do INCT-EM. “Os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia representam o segmento mais qualificado e selecionado e de ponta da ciência brasileira, cobrindo todas as áreas de atuação, e estão absolutamente autorizados, do ponto de vista acadêmico, a falar sobre o que é verdade, o que é mais relevante, quais as limitações e inovações, sobre os rompimentos conceituais - e também quando o que se está dizendo é bobagem. Infelizmente, hoje, algo que deveria ser tão simples mas não é, é dizer se uma afirmação é cientificamente embasada ou se é bobagem, e esse grupo que está aqui é capaz de fazer essa distinção. E, em um contexto de defesa da terra plana, essa é uma questão nacional de vida ou morte”, conclui Pedro.
Por Rosa Maria Mattos, jornalista do INCT-EM
Estão abertas as inscrições para o XXXII Encontro do Grupo Arthromint, que acontecerá entre os dias 31 de julho e 03 de agosto de 2019, nas Pousadas Recanto dos Pássaros e Maria Bonita, em Ilha Grande, Angra dos Reis. Além da abertura das inscrições, está disponível a lista com resumo das mesas temáticas durante o encontro, para acessar as informações completas, acesse o site do Arthromint.
Com uma metodologia que proporciona interações diretas e informais entre pesquisadores e estudantes, o Arthromint é direcionado para cientistas que têm como modelo de pesquisa os artrópodes e helmintos, em áreas como a fisiologia, genética, evolução, ecologia, controle, sistemática, edemiologia, interação parasito/hospedeiro, comportamento, entomologia molecular, entre outras.
Serão aceitas 200 inscrições, que vão até o dia 01 de julho, se ainda houver vagas. O primeiro período para inscrições, com desconto, vai até o dia 29 de abril, e os valores variam conforme a categoria do pesquisador inscrito (iniciação científica/aperfeiçoamento, mestrado/ técnico, doutorado, pós-doc ou docente/pesquisador). E o resumo dos trabalhos deverão ser enviados até o dia 03 de julho, conforme o modelo indicado. Além do valor da inscrição, é necessário contratar o pacote de diárias da pousada, que terá custo de R$ 950,00 por pessoa, incluindo, café da manhã, almoço e jantar, em quartos triplos ou quádruplos.
Veja abaixo a lista das mesas temáticas, com os palestrantes e uma breve descrição:
Manutenção do organismo modelo que usamos em nossas pesquisas pode consumir tempo e dinheiro. Em épocas de "vacas magras", responder questões e testar hipóteses em "organismos pequenos" pode ser surpreendentemente eficiente e barato. Foi assim que a Biologia Molecular foi estabelecida.
Os insetos têm sido destacados pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação como um meio sustentável e de alto teor proteico para suprir a futura demanda proteica na alimentação animal e humana. Existem mais de duas mil espécies de insetos comestíveis já catalogadas, altamente nutritivas, pois são uma grande fonte de proteínas, lipídios, minerais, vitaminas e energia. Além disso, sua produção requer menos terra e água e emite menos gases de efeito estufa do que a criação de gado. Por conta de tudo isto, essa mesa temática irá discutir o panorama atual do desafio de se estabelecer os futuros mini rebanhos de insetos comestíveis.
A mesa temática será uma oficina de desenvolvimento de projetos aplicados no tema Controle de Vetores, utilizando técnicas de brainstorming e design thinking. Os projetos serão apresentados publicamente e o melhor projeto ganhará um prêmio em reais a ser definido pela organização.
Iremos bater um bom papo sobre o estado da arte do controle químico de artrópodes e porque populações naturais desses seres estão se tornando resistentes aos diversos tipos de inseticidas. Vamos trocar ideias e experiências sobre projetos que testam se insetos estão resistentes e quais mecanismos fisiológicos estão sendo selecionados.
Em novembro de 2018, um pesquisador na China declarou ter “editado” o genoma de duas gêmeas para torna-las imune ao vírus HIV. A técnica utilizada é conhecida como sistema CRISPR/Cas9 e trata-se de uma adaptação de um sistema de defesa que as bactérias utilizam para combater infecções virais. Nesta mesa temática iremos abordar as bases moleculares do sistema CRISPR/Cas9 assim como sua aplicação para investigar o desenvolvimento de artrópodes e controlar populações de insetos vetores.
To provide participants with knowledge of the principles on cell culture, good practices and requirements for isolation, maintenance and propagation of parasitic agents in tick embryonic cells. /Proporcionar aos participantes conhecimentos dos princípios sobre cultivo celular, boas práticas e requisitos para isolamento, manutenção e propagação de agentes parasitários em células embrionárias de carrapatos.
Transcriptômica pode ser definida como o estudo do conjunto completo de moléculas de RNA produzidas pelo genoma através da transcrição sob certas condições, estágio de desenvolvimento ou célula específica. Com o avanço de tecnologias de sequenciamento massivamente paralelas, possibilitou-se produzir bilhões de bases sequenciadas, com maior precisão e atrelado a redução do custo. A análise bioinformática de dados de sequenciamento de RNA (RNA-Seq) possibilitou a ampliação da escala em diversas aplicações em transcriptômica como estudo de expressão gênica diferencial, splicing alternativo, descoberta e anotação de novos genes e isoformas, entre muitas outras. Enquanto o genoma e transcriptoma de espécies como Homo sapiens, Mus musculus e Drosophila melanogaster vêm sendo ao longo das últimas duas décadas exaustivamente caracterizados e atualizados constantemente, o que permite a aplicação dos mais diversos métodos bioinformáticos, outros organismos contam apenas com montagens incompletas do genoma e anotações dos elementos gênicos em estado inicial. Baseado nesse contexto, essa mesa discutirá os desafios e as possíveis soluções para a análise quantitativa e qualitativa de dados de RNA-Seq de organismos não-modelos.
Proteoma é o conjunto de proteínas expresso em uma célula, tecido ou organismo em um determinado tempo e espaço. Atualmente, a caracterização de um proteoma, assim como de sua modulação, é rotineiramente realizado através da proteômica baseada em espectrometria de massa. A identificação de milhares de proteínas e a análise das suas abundancias relativas e absolutas permitiu a identificação de vias de sinalização moduladas em diferentes condições biológicas como estresse, fisiológico ou não, sem conhecimento prévio. Além disso, modificações pós-traducionais como fosforilação, acetilação, ubiquitinação, entre outras, são consideradas importantes moduladores da função enzimática, interação proteína-proteína e da localização sub celular. Proteômica baseada em espectrometria de massa associada a métodos de enriquecimento permite a identificação de milhares de sítios de fosforilação a partir de pequenas quantidades de amostra. Esses métodos têm sido aplicados a diversas condições patofisiológicas. Atividades: Na mesa redonda serão explicadas diferentes metodologias e abordagens para identificação e quantificação proteica. Em particular, abordagens baseadas ou não em gel para identificação de proteínas serão discutidas para amostras de origem diversas. Abordagens com e sem marcação para quantificação proteica, serão discutidas em função do tipo de amostra. A mesa redonda será interativa, já que todos os participantes terão a oportunidade/possibilidade de compartilhar ideias, sugestões e dúvidas encontradas em seus projetos.
As vacinas são o meio mais prático e barato para controlar doenças. O conhecimento dos mecanismos envolvidos na resposta imune humoral e celular também é fundamental para a melhor compreensão dos mecanismos envolvidos na proteção, e também no desenvolvimento de novas vacinas.
Cerca de 75 % dos genes envolvidos em patologias em humanos têm ortólogos em Drosophila. Assim a grosso modo, os insetos poderiam ser modelos para 3/4 das doenças associadas em algum nível com a genética do indivíduo. Nessa mesa vamos apresentar e discutir alguns resultados que mostram que os insetos podem substituir modelos animais em alguns estudos, reduzindo os custos de criação dos animais e problemas éticos, permitindo o acesso a manipulações genéticas sofisticadas, e aumentando o número amostral e o poder estatístico.
12 de abril de 2019, por Rosa Maria Mattos
Uma vacina que tem potencial de atuar no controle de não apenas uma espécie de carrapato - mas nas cinco principais espécies que infestam bovinos em diferentes países. Esse é o produto que um grupo de pesquisadores do Centro de Biotecnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul acaba de pedir registro de patente.
A vacina é composta por um coquetel de proteínas - Glutationa S-transferases - de duas espécies de carrapatos : o Rhipicephalus appendiculatus, Rhipicephalus decoloratus, Rhipicephalus microplus, Amblyomma variegatum, e o Haemaphysalis longicornis.
Os pesquisadores produziram as Glutationa S-transferase recombinantes, que foram usadas em ensaios experimentais de vacinação. Os resultados mostraram que os coelhos vacinados tiveram redução de 35% do número de carrapatos fêmea da espécie Rhipicephalus sanguineus.
A pesquisa resultou, além do pedido de patente, em um artigo recém-publicado na revista Vaccine assinado por Itabajara Vaz, Gabriela Alves, Charles Ndawula e Luís Fernando Parizi, da UFRGS, integrantes do Instituto Nacional de Entomologia Molecular.
Infestações por carrapato causam perda de peso dos animais, diminuem a produção de leite e prejudicam o couro. Além disso, esses parasitas são vetores dos agentes causadores de doenças como a babesiose e anaplasmose, que podem levar os animais infectados à morte e levando a perdas econômicas na bovinocultura mundial. Atualmente, o método mais comum para evitar as infestações de carrapatos bovinos no Brasil é o uso de acaricidas químicos, mas que possuem alto custo e geram resíduos químicos na carne e leite produzidos.
Só existe uma vacina contra carrapatos sendo comercializada no mundo, produzida por Cuba. No Brasil, algumas vacinas experimentais contra carrapatos vêm sendo desenvolvidas por grupos de pesquisa - mas nenhuma delas está à venda para produtores de animais.
Estimativas sugerem que o custo de uma vacina seria menor do que a dos métodos atuais de controle de infestações. Para dar prosseguimento ao desenvolvimento comercial da vacina, os pesquisadores pretendem testá-la em fazendas de bovinos, e buscam parceria com indústrias.
O INCT-EM convidou o pesquisador Fernando Araujo Monteiro, da Fundação Oswaldo Cruz, para um desafio: fazer uma breve síntese do artigo "Evolution, Systematics, and Biogeography of the Triatominae, Vectors of Chagas Disease", publicado na Advances in Parasitology, no ano passado, e disponível no ResearchGate. Com a palavra, o pesquisador!
Este artigo resulta de convite feito em dezembro de 2015 pelo Dr. Russell Stothard, Editor do Advances in Parasitology, um dos periódicos de maior tradição e renome no campo da parasitologia mundial. Lançado em 1963, o Advances se dedica à publicação de artigos de revisão abrangentes e atualizados em todas as áreas da parasitologia. A encomenda que recebi foi a de escrever artigo sobre “evolução de triatomíneos, vetores da doença de Chagas”. Dada a importância e complexidade da tarefa julguei prudente compartilhá-la com quatro colegas especialistas sobre o tema em questão: Dra. Christiane Wierauch, da University of California, Riverside, CA, Estados Unidos; Dr. Marcio Felix, do Laboratório de Biodiversidade Entomológica, Instituto Oswaldo Cruz, FIOCRUZ, Rio de Janeiro, Brazil; Dr. Cristiano Lazoski, do Instituto de Biologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil; e Dr. Fernando Abad-Franch, Grupo Triatomíneos, Instituto Rene Rachou, FIOCRUZ, Belo Horizonte, Brazil .
(Texto: Fernando Araujo Monteiro)
A motivação necessária veio da nostalgia de momentos vividos no Laboratório Nacional e Internacional de Referência em Taxonomia de Triatomíneos do Instituto Oswaldo Cruz. Em 1995 (ainda aluno de mestrado do departamento de genética da UFRJ), recebi do Dr. Jose Jurberg, chefe do laboratório, um exemplar da obra referida como a “bíblia dos triatomíneos”, artigo seminal de Lent & Wygodzinsky (1979). Algumas semanas depois, o Professor Herman Lent, já aposentado, visitou o laboratório e fez a gentileza de autografar meu exemplar. Escreveu: “A Fernando Monteiro, julgando ser útil em suas pesquisas.”
Mas por que falar sobre classificação e biogeografia de barbeiros num contexto filogenético? Porque “em biologia nada faz sentido senão à luz da evolução”, segundo frase cunhada pelo célebre geneticista russo Theodosius Dobzhansky (1973), como título de artigo publicado no periódico The American Biology Teacher, visando a difusão do pensamento evolucionista entre professores de biologia norte-americanos. A perspectiva evolucionista permite uma interpretação mais racional, parcimoniosa e portanto diferenciada dos fenômenos biológicos. A oprtunidade de escrevermos um artigo de revisão sobre tema tão relevante nos deu a liberdade necessária para discorrermos sobre os assuntos que julgamos mais relevantes e de maior interesse para a comunidade científica dedicada aos estudos sobre vetores da doença de Chagas.
O conhecimento cientifico é construído através da publicação de resultados de investigações em periódicos indexados. Entretanto, pesquisadores frequentemente divergem sobre determinados temas e achados. Esta revisão nos possibilitou avaliar criteriosamente resultados descritos nos artigos publicados sobre sistemática molecular de triatomíneos desde 1985. Além disso, pudemos revisar as informações sobre ocorrência geográfica de espécies disponíveis na literatura.
Segundo Russell Stothard, em função das novas evidências moleculares e filogenéticas que apresenta de forma sintética, o trabalho é digno de comparação à célebre obra de revisão sobre a subfamília Triatominae publicada por Herman Lent e Pedro Wygodzinsky em 1979. “De fato, este é um excelente resumo da situação atual. O artigo apresenta uma nova proposta de agrupamento para os principais subgrupos da subfamília, sem perder de vista as informações da taxonomia clássica. Ilustra ainda a evolução complexa deste grupo de vetores em um contexto biogeográfico”.
Esta revisão discute quatro temas fundamentais apresentados a seguir:
1. Origem da hematofagia
A subfamília Triatominae compõe um grupo particular dentro da família Reduviidae: todos seus integrantes se alimentam exclusivamente do sangue de animais vertebrados. As demais espécies de reduviídeos são predadoras (se alimentam da hemolinfa de outros insetos) ou fitófagas (sugam seiva de plantas). A maioria das análises indica que a subfamília Triatominae inclui todos os descendentes de um ancestral comum, o que caracteriza um grupo monofilético. Isso sugere que a hematofagia provavelmente surgiu uma única vez na evolução do grupo e que este evento teria ocorrido há aproximadamente 37 milhões de anos.
2. Importância da taxonomia integrativa
Este grupo taxonômico inclui 152 espécies de triatomíneos classificadas em 16 gêneros agrupados em cinco tribos. Entretanto, o avanço das pesquisas moleculares revelou imprecisões nas classificações baseadas apenas em características morfológicas dos vetores. Em função disso, estudos mais recentes buscam a taxonomia integrativa, que reúne dados de diversos campos do saber, como morfologia, genética, biogeografia, ecologia e comportamento”.
3. Origem dos triatomíneos do Velho Mundo
Treze espécies de triatomíneos são encontradas no Velho Mundo. A hipótese que defendemos chama-se ‘Out of America’. Essas espécies provavelmente são descendentes de triatomíneos da América do Norte, que teriam migrado cerca de 20 milhões de anos atrás, atravessando o estreito de Bering, entre os Estados Unidos e a Rússia.
4. Apresentação de nova proposta de classificação
Uma nova proposta de classificação de triatomíneos é apresentada. Assim, dentro de cada tribo, os insetos são classificados em linhagens, considerando sua origem evolutiva; clados, definidos a partir da ancestralidade e da distribuição geográfica comuns; e grupos de espécies, reunindo animais com alto grau de semelhança morfológica e genética, incluindo os complexos de espécies.
Com este trabalho de revisão espero ter podido corresponder às expectativas de um dos maiores nomes na história da taxonomia de triatomíneos, o Dr. Herman Lent.